segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Editorial

A concepção desta revista eletrônica está fundada sobre a vida de um dos mais importantes nomes da literatura brasileira e identificado, pelo crítico Harold Bloon, como "o mais supremo literário negro de todos os tempos" e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Estamos divulgando por meio deste, sua vasta obra literária inclui como romances, contos, poesias, peças teatrais e ate mesmo crítica literária, estamos com intuito de prestar uma pequena homenagem no ano de comemoração de seu centenário.

Vida


Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira portuguesa da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto, passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não freqüentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude. Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidata.

De origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista Manoel Antônio de Almeida. Em 1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.

Em 1864 estréia em livro, com Crisálidas (poemas). Em 1869, casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos mais velha do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.

Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).

Em 1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de todas as escolas, criando uma obra única.

Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba(1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos(1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como Mário de Alencar, Euclides da e Astrogildo Pereira (ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores), ficcionalmente o tema da morte de Machado de Assis foi revisto por Haroldo Maranhão.

Obras

Toda a obra de Machado de Assis é de domínio público, por ter expirado o correspondente direito de autor em 1978, ao se completarem 70 anos do falecimento do autor.

Romance
Ressurreição, 1872
A mão e a luva, 1874
Helena, 1876
Iaiá Garcia, 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
• Casa Velha, 1885
Quincas Borba, 1891
Dom Casmurro, 1899
Esaú e Jacó, 1904
Memorial de Aires, 1908

Poesia
Crisálidas, 1864
Falenas, 1870
Americanas, 1875
Ocidentais, 1880
Poesias completas, 1901

Livros de contos
Contos Fluminenses, 1870
Histórias da Meia-Noite, 1873
Papéis Avulsos, 1882
Histórias sem Data, 1884
Várias Histórias, 1896
Páginas Recolhidas, 1899
Relíquias da Casa Velha, 1906


Alguns contos
A Carteira
Miss Dollar
O Alienista
A Sereníssima República
O Segredo do Bonzo
Teoria do Medalhão
Uma Visita de Alcibíades
O Espelho (conto)
Noite de Almirante
Um Homem Célebre
Conto da Escola
Uns Braços
A Cartomante
O Enfermeiro
Trio em Lá Menor
O Caso da Vara
Missa do Galo
Almas Agradecidas
A Igreja do Diabo

Teatro
Hoje avental, amanhã luva, 1860
Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
O caminho da porta, 1863
O protocolo, 1863
Teatro, 1863
Quase ministro, 1864
Os deuses de casaca, 1866
Tu, só tu, puro amor, 1880
Não consultes médico, 1896
Lição de botânica, 1906

Machado de Assis - O contista

Machado de Assis foi um grande contista. Conto é uma narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucos personagens que existem em função de um núcleo. É o relato de uma situação que pode acontecer na vida das personagens, porém não é comum que ocorra com todo mundo. Pode ter um caráter real ou fantástico da mesma forma que o tempo pode ser cronológico ou psicológico.

Resumo Dos Contos

  • A CARTOMANTE

A cartomante é a história de Vilela,Camilo e Rita envolvidos em um triângulo amoroso mais a cartomante que pode ser considerada outra personagem devido a sua grande influência no conto. A historia começa numa sexta-feira de novembro de 1869 com um dialogo entre Camilo e Rita. Camilo nega-se veementemente a acreditar na cartomante e sempre desaconselha Rita de maneira jocosa. A cartomante está caracterizada neste conto como uma charlatã, destas que falam tudo o que serve para todo mundo. É um personagem sinistro, que apesar não ter nem o seu nome revelado (característica machadiana), destaca-se como um personagem que ludibria os personagens principais. Rita crê que a cartomante pode resolver todos os seus problemas e angústias. Camilo já no fim do conto, quando está prestes a ter desmascarado seu caso com Rita, no ápice de seu desespero, recorre a esta mesma cartomante, que por sua vez o ilude da mesma forma como ilude todos os seus clientes, inclusive Rita. A mulher usa de frases de efeito e metáforas a fim de parecer sábia e dona do destino de Camilo, este que sai de lá confiante em suas palavras e ao chegar no apartamento de Vilela encontra Rita morta e é morto a queima roupa pelo amigo de infância, que já está sabendo da traiçao da esposa e o esperava de arma em punho.

  • CONTO DE ESCOLA

Tudo começa quando Raimundo, o angustiado corruptor, filho do mestre, oferece uma moeda a Pilar, seu colega de classe, em troca de umas lições de sintaxe. Curvelo, o delator que era um pouco levado do diabo , os denuncia ao professor e ambos, Raimundo e Pilar, são violentamente castigados com doze bolos de palmatória cada. Segundo Ivan Proença , “Conto de escola” não é de estilo propriamente machadiano, pois em seu conteúdo destaca-se a esperança. Isto é, existe a possibilidade de que, na inocência das crianças, o rumo ético e político da nação possa ser mudado, seria a representação da idéia de que as gerações seguintes poderiam vir a ser mais honestas e de bom caráter. Ainda conforme Proença (1997, p. 24), o autor demonstra tal posicionamento a partir do instante em que descreve o fato de o som de um tambor, juntamente da marcha militar, se tornar mais importante, aos olhos de Pilar, do que uma moeda de prata, cuido que doze vinténs ou dois tostões

  • O CASO DA VARA

Conta a história de um seminarista fugitivo, que tem medo de voltar para casa, pois sabe que o pai o leverá de volta ao seminário. Então, Damião foge e se esconde na casa de Sinhá Rita. A mulher promete ajudá-lo e por isso Damião permanece. Porém, Sinhá Rita, tem uma escrava chamada Lucréia, uma garota que é maltratada por Sinhá Rita. Damião, vendo a situação, promete a si mesmo que iria apadrinhar Lucréia. Mas chega um momento, em que Sinhá Rita vai castigar Lucréia e pede a vara a Damião, que fica em dúvida entre ajudar Lucréia ou entregar a vara e receber a ajuda de Sinhá Rita. Por fim, ele decide entregar a vara

  • UMAS FÉRIAS

O conto, “Umas Férias”, começa na escola onde um homem de cabelos compridos e roupas amarrotadas conversa com o professor, que depois de um tempo chama por José Martins e o manda sair.O homem era o tio de José que ele chamava de tio “Zeca”, alem de José, o tio “Zeca” pegou também Felícia, irmã de José Martins. No Caminho para casa os dois caminhavam curiosos, pensando no que iria acontecer, pensavam em festas ou comemorações.A felicidade era imensa, principalmente para José que alem de imaginar o festão, tinha saído mais cedo do colégio, ele não gostava de estudar, mas a alegria deles, tornou-se espanto quando viraram a esquina e depararam-se com pessoas vestidas de pretos, com aparências tristes.A casa tinha um armarinho na frente, os garotos entraram, foram até a sala de jantar, dentro ao pé da cama estava a mãe deles, que os abraçou chorando e lhes disse que o pai deles tinha morrido.Foi a semana mais triste da vida deles, José não via a hora de voltar a escola e os dois tentavam passar o tempo de qualquer maneira. Até que voltaram à escola, na segunda, foi também a volta da alegria, eles esqueceram as férias sem gosto, e ficaram com grande alegria sem férias.

CARACTERISTICAS

REALISMO X NATURALISMO

  • REALISMO

- Ênfase na realidade;

- Predomínio da razão;

- Distanciamento racional entre o autor e os temas;

- Objetividade;

- Engajamento (literatura como forma de transformar a realidade)

- Retrato fiel das personagens;

- A mulher numa visão real, sem idealizações...

- Universalismo.

  • NATURALISMO

- Determinismo biológico;

- Objetivismo científico;

- Temas de patologia social;

- Observação e análise da realidade;

- Ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual;

- Linguagem simples;

- Descrição e narrativa lentas

- Impessoalidade;

- Preocupação com detalhes.

Principais autores: Aluísio Azevedo,

“O mulato”, em 1881: início do Naturalismo no Brasil; “O Cortiço”,

Raul Pompéia, “O Ateneu”.

DIFERENÇAS

REALISMO X NATURALISMO

  • REALISMO

- Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França).

- Romance documental, apoiado na observação e na análise.

- A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.

- Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo.

- As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social.

- O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.

  • NATURALISMO

- Forte influência da literatura de Émile Zola (França).

- Romance experimental, apoiado na experimentação e observação científica.

- A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento.

- Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social.

- As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas.

- o tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.